segunda-feira, 26 de janeiro de 2009


notas da produção



Um homem perdido em uma cidade busca reencontrar seu lugar no mundo. Outrora com ideais, amigos, namorada, talento e vontade, de diversas formas ele perdeu tudo. Afundado entre o álcool e o cigarro em seu pequeno apartamento e em passeios solitários pela cidade, tenta, aos poucos, conseguir reassumir o controle de sua vida e se encaixar na sociedade, mesmo que não seja da forma que gostaria.

Cinzas é um curta universitário que está sendo realizado por alguns alunos de Comunicação Social - Midialogia da UNICAMP, com roteiro e direção de Carlos Massari.
Só faltam menos de dois meses para as gravações e ainda há algumas pendências, pois como a maioria dos curtas universitários, não contamos com dinheiro algum, e tudo será a base de patrocínios.
Semana passada conseguimos um muito-bem-vindo patrocínio
da Lanza imóveis, mas ainda precisamos de muito mais.
O elenco e quase todas as locações já estão definidos e já temos o equipamento de gravação.
Aos poucos vamos garantindo que tudo dê certo.

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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009


cinzas I



não sabia que o céu podia ter essas cores. na verdade, eu nem sequer sabia que ele tinha cores. imaginava algo pálido, desbotado, simplesmente imperceptível. não tinha vontade de olhar para ele, de sair e sentir o que ele tinha para mostrar e para oferecer. mas hoje eu sai. desliguei a televisão, deixei as garrafas em cima da mesa, peguei a chave e saí andando. o céu estava lá.

o céu estava lá e era escuro. preto. nuvens se movimentando, provocando um vento gélido apesar de muito leve. preto o céu. preto não, acinzentado. provavelmente ia chover. provavelmente ia chover forte. mas o céu estava preto, acinzentado, escuro. talvez querendo expulsar alguma coisa que o incomodava, talvez se revoltando porque eu resolvi olhar para ele. mas eu olhei e não vi nada. ele estava escuro, e eu não sabia que ele podia ter essas cores. melhor se esconder em algum lugar.

a praça estava no mesmo lugar de sempre. era estranho como o céu muda suas cores, fica acinzentado, escuro, e a praça continua no mesmo lugar e com a mesma forma. e eu continuo com a mesma forma. a barba não cresce mais. os olhos não abrem mais. o pulmão nem reclama do cigarro de toda hora. já deve ter desistido. como a praça deve ter desistido há muito, muito tempo de fazer algo contra essas cores do céu.

não sabia que o coração podia ter essas cores. eu estou aqui, na praça, só lembrando do fracasso. de cada texto que nunca foi aceito. dos papéis rabiscados sem nenhum sentido. das tardes perdidas em qualquer motel vagabundo em troca de algum calor humano. simplesmente porque hoje eu sai. desliguei a televisão, deixei as garrafas em cima da mesa, peguei a chave e saí andando. o coração não estava lá.

não estava lá. não havia nada lá. a praça, o parque, o motel, as casas, todos pareciam sempre tão iguais. não mudavam. o céu mudava, eles não. acho que, no fundo, tudo era como o céu. cinza, queimado, precisando chover. não interessa onde tudo estivesse, certamente estaria escuro, desconhecido, inalcançável.
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