cinzas II
o vento balançava o seu vestido e os galhos de algumas árvores. olhava seus passos, lentos, calculados, procurando o melhor ângulo ou o melhor local. de um lado, via o lago, tão bonito, com meia duzia de patos esquisitos querendo bicar seres humanos, mas de outro, via você, com todos os reflexos, todos as cores que dançavam no seu rosto, todos os detalhes do teu corpo que tanto me fascinavam.
pisar na grama, se apoiar na árvore, determinar o ritmo das outras pessoas, animais, nuvens, veículos e pensamentos que ocupavam aquele mesmo espaço. por mais que a grama cresça, será sempre a mesma. será sempre lá que você esteve se abaixando à minha volta, me contando que tirou fotos lindas do meu rosto, do meu sorriso e da paisagem ao fundo.
depois, simplesmente peguei a chave e entrei na minha casa. você não gostava muito dela. era desarrumada, cheirava a vodca e mofo. não era um bom ambiente pra um relacionamento, dizia. eu nunca concordei. entre essas páginas, essas garrafas, essas linhas é que vivia o meu amor. você era parte dele, parte inseparável, parte indestacável de todo o resto.
mas você se destacou. não aguentou o cheiro de vodca e de mofo, cada vez mais presente não só na minha casa, como na minha boca, no meu semblante e na minha sombra. não sei se você era a mulher certa para mim. provavelmente não. provavelmente nem existe essa história de mulher certa. mas era você a quem eu amava, e agora, simplesmente, um pedaço de mim estava ali no chão, junto com as páginas, as garrafas e as linhas, na forma de cinzas.
o vento balançava o seu vestido e os galhos de algumas árvores. mas simplesmente não havia vestido. simplesmente não havia você. eu não reconhecia mais a grama, as árvores, os patos nem se interessavam em me bicar. aquele parque estava vazio, triste, solene, como em uma missa pela sua alma.
pisar na grama, se apoiar na árvore, determinar o ritmo das outras pessoas, animais, nuvens, veículos e pensamentos que ocupavam aquele mesmo espaço. por mais que a grama cresça, será sempre a mesma. será sempre lá que você esteve se abaixando à minha volta, me contando que tirou fotos lindas do meu rosto, do meu sorriso e da paisagem ao fundo.
depois, simplesmente peguei a chave e entrei na minha casa. você não gostava muito dela. era desarrumada, cheirava a vodca e mofo. não era um bom ambiente pra um relacionamento, dizia. eu nunca concordei. entre essas páginas, essas garrafas, essas linhas é que vivia o meu amor. você era parte dele, parte inseparável, parte indestacável de todo o resto.
mas você se destacou. não aguentou o cheiro de vodca e de mofo, cada vez mais presente não só na minha casa, como na minha boca, no meu semblante e na minha sombra. não sei se você era a mulher certa para mim. provavelmente não. provavelmente nem existe essa história de mulher certa. mas era você a quem eu amava, e agora, simplesmente, um pedaço de mim estava ali no chão, junto com as páginas, as garrafas e as linhas, na forma de cinzas.
o vento balançava o seu vestido e os galhos de algumas árvores. mas simplesmente não havia vestido. simplesmente não havia você. eu não reconhecia mais a grama, as árvores, os patos nem se interessavam em me bicar. aquele parque estava vazio, triste, solene, como em uma missa pela sua alma.